domingo, 10 de outubro de 2010

"Un poco más" Excesso no treinamento e os efeitos no sistema imunológico.

Concluindo os dois post´s anteriores, apesar do atraso:

A causa

O enfraquecimento do sistema imunológico pode ser estimulado por diversos fatores como estresse, a permanência em locais fechados, o clima, a alimentação, o tabagismo, o sono e a sobrecarga na atividade física.

O estudo

A Imunologia do Exercício¹ relaciona os efeitos dos esforços físicos sobre o sistema imunológico e suas prováveis consequências no organismo. O interesse nessa área surgiu principalmente em função da ativação do sistema hormonal durante a prática de atividades físicas, e que tem potencial de alterar a função do sistema imunológico. Além disso, acredita-se que a prática de atividades físicas pode ser um meio de preventivo e de redução dos fatores de risci de doenças associadas ao estilo de vida (crença de que atletas são menos suscetíveis às doenças infecciosas), bem como fazer parte do tratamento e reabilitação de doenças comprometedoras do sistema imunológico, impedindo seu progresso.

Atividade Física e seus efeitos

Ao praticarmos alguma atividade física, ocorre uma resposta natural do organismo denominada estresse físico e que vai atuar em vários pontos numa complexa sequência de eventos, denominada resposta imune. Dentro desta, determinados parâmetros imunes (como número de células, função celular e resposta celular) vão responder diferentemente ao tipo de atividade física realizada.

Em geral, a natureza e a magnitude das mudanças ocorridas vão depender de diversos fatores, sendo os principais:
- Tipo de atividade física, a intensidade e a duração da mesma;
- Nível de condicionamento e passado atlético do indivíduo;
- Fatores ambientais; e,
- Horário de realização da atividade física.

Dentre todos esses fatores, a dosagem da atividade física (intensidade e duração) é o maior responsável pelas mudanças, o que é um efeito direto das mudanças do sistema hormonal. A resistência imunológica está relacionada à função imune, que responde proporcionalmente às alterações hormonais.

Efeitos imediatos

A atividade física induz à mudanças imediatas e posteriores na distribuição das células do sistema imunológico (Leucócitos). Essas células circulantes sofrem mudanças em seu número e capacidade funcional, pois são mediadas pela liberação de hormônios de estresse, produzidos durante a atividade física (cortisol e adrenalina). O grau dessa mudança pe diretamente proporcional à intensidade e à duração da atividade física, porém o efeito é transitório, normalmente retornando ao estado 'normal' após algumas horas do término da mesma.

Efeitos prolongados

A prática constante de atividades físicas (como em um programa de treinamento - série) promove as mesmas mudanças no número e função das células circulantes no sistema imunológico observadas durante a atividade imediata. Porém, apesar do efeito também ser transitório, o tempo necessário para o retorno ao estado 'normal' após a a atividade física é consideravelmente maior, principalmente se o atleta não possuir uma regularidade e tempo necessário em seus períodos de repouso. Estudos observaram que atletas que se submeteram a um repouso absoluto de 24hs apresentavam poucos efeitos prolongados no números dessas células imunes, porém é possível que exista uma exceção durante períodos bem prolongados de treinamento mais intenso, onde se observa um quadro de concentrações celulares considerado clinicamente baixo, melhor representado pelo conhecido 'overtraining', cujos sintomas estão associados ao declínio progressivo na contagem de células do sistema imunológico.

A observação de uma baixa imunidade e sua relação direta com a intensidade e duração da atividade física, levou à Teoria da Janela Aberta. Essa teoria explica que o grau das mudanças que ocorrem após casa sessão de treinamento promovem uma 'imunidade alterada', que é caracterizada como um período específico de alta susceptibilidade à infecção do trato respiratório (vias aéreas), tais como gripes, resfriados e alergias. o exercício físico pode resultar em respostas tanto positivas como negativas à imunidade, dependendo do modelo de estresse a que o corpo é submetido. Em situações de atividade extenuante, como no caso de atletas envolvidos em longos períodos de treinamento intenso, o aumento da susceptibilidade à infecções é amplamente observado. (Silva, 2009).

De acordo com Gleeson, 2007, a prática de exercício físico moderado pode promover uma ação positiva ao sistema imunológico reduzindo a incidência a infecções, já exercícios intensos e de longa duração podem reduzir a resposta imunológica por um período que  pode compreender de 3 à 72hs, e representa um estado de diminuição da capacidade de combate do sistema imunológico, onde vírus e bactérias tem um maior poder de reprodução e de ataque, o que representa um risco aumentado de desenvolvimento de infecções, podendo ser maior se um indivíduo se expor a ciclos repetidos de treinamento de alta intensidade.

Alguns dados de pesquisa, sugerem que o sistema imunológico sofre uma grande queda de capacidade e grande estresse após atividades físicas intensas e/ou prolongadas, mas essas mesmas mudanças não são observadas após atividades físicas moderadas.

Entre várias hipóteses feitas para explicar tal ocorrência, é a teoria da curva em "J" de Neimann e Canarella, a teoria da da Janela Aberta de Pedersen e Ullum, que propõem a existência de período de imunossupressão pós exercício de alta intensidade (Rosa e Col., 2002)

De acordo com o gráfico abaixo, quanto maior o volume de treino, maior é a incidência de doenças do trato respiratório (vias aéreas):



Estratégias de Prevenção

Algumas medidas são consideradas eficazes para a manutenção da capacidade funcional do sistema imunológico, bem como a prevenção e redução do risco de infecções. Entre elas, destacam-se:

- Manutenção dos níveis de estresse diário a um mínimo;
- Alimentação balanceada e manutenção de vitaminas e minerais a níveis ótimos;
- Evitar o treinamento excessivo (overtraining) e a fadiga crônica;
- Procurar ter sono adequado e em horários reguláveis;
- Evitar uma de peso acelerada;
- Evitar levar as mãos aos olhos e ao nariz (chamada de auto inoculação);
- Evitar pessoas com sintomas de infecções respiratórias e multidões quando possível;
- Adoção de vacinação regular contra gripe é altamente recomendada.

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, 2009, diz que, para garantir uma redução destes riscos é fundamental promover uma excelente recuperação através da oferta adequada de nutrientes como os carboidratos¹ e garantir uma boa hidratação² é um fator fundamental para recuperação do atleta.

Oferecer quantidades adequadas de proteínas, vitaminas e minerais também é essencial, e  ainda vários estudos recentes vêem demonstrando que os probióticos podem oferecer benefícios ao sistema imunológico através do controle da microbiota intestinal, promoção da resistência gastrintestinal à colonização por patógenos e estimulação do sistema imunológico (SAAD, 2006); Palma, et al, (2007), enfatiza que, garantir um sono de qualidade é essencial já que a privação do sono resulta em alterações importantes no sistema imunológico.

Conclusão

A prática de atividades físicas induz à mudanças radicais no sistema imunológico, que podem ser ainda mais acentuadas através de um programa de treinamento físico mal planejado, além de descuidos do atleta que podem aumentar significativamente a susceptibilidade às infecções oportunas.

De acordo com muitos estudos, a maioria dos fatores de riscos podem ser combatidos através de uma alimentação balanceada, pois é um poderoso aliado na prevenção de infecções e no fortalecimento do sistema imunológico.

(¹) Carboidratos: 10g/kg de peso/dia (durante o exercício: entre 7 e 8g/kg de peso/hora de treino e após o exercício: carboidrato simples entre 0,7 e 1,5g/kg peso no período de quadro horas) (HERNANDEZ & NAHAS, 2009).


(²) Hidratação: em exercícios prolongados, ingestão de líquidos contendo sódio e carboidrato (HERNANDEZ & NAHAS 2009).


Referências bibliográfica:
- GLEESON, M. 'immune function in sport and exercise'
- IOC Medical Comission 'The olympic textbook'
- ROSA, L.F., 'Influencias do exercício na resposta imune'
- SAAD, S.M.I. 'Probióticos e prebióticos'